quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Respeito X Trairagem

Confesso que não sou dos maiores fãs da “Filha da Dona Leci”, mas suas atitudes são de se admirar. No último sábado estive na Feijoada da Família Portelense que teve como convidada a mangueirense Leci Brandão. A mesma que conseguiu ser a primeira mulher a participar da ala de compositores de sua escola de coração, que participa ativamente de dois movimentos, um em prol dos negros e outro em prol das mulheres, que não abre mão de deixar alguma mensagem àqueles que assistem às suas apresentações, lavou a alma de todos os imperianos, como eu, perante o presidente da Portela: Nilo Figueiredo. Quero ressaltar o meu RESPEITO e ADMIRAÇÃO pela azul e branco, sua história, tradição, seus torcedores e, principalmente, pela sua maravilhosa Velha Guarda.
Numa das edições da feijoada em questão, mais precisamente no ano passado, a Velha Guarda do Império Serrano foi convidada a participar do evento. Respeitosamente os velhinhos subiram ao altar portelense colocando a quadra da Rua Clara Nunes abaixo. Durante a apresentação, em pleno samba enredo de 2006 “O meu Império é raiz, herança, e tem magia pra sambar o ano inteiro...”, que havia caído na boca do povo naquele ano, transformando a quadra da Portela na Sapucaí, o senhor em questão simplesmente interrompeu o samba, num profundo sinal de desrespeito com o público (Imperianos, Portelenses, Mangueirenses, Estacianos, e demais), com a instituição Império Serrano e, principalmente, com a Velha Guarda do reizinho de Madureira. Aliás, respeitar número baixo não é uma virtude inerente ao senhor em questão, haja visto o ocorrido com a sua própria Velha Guarda no carnaval de 2005.
Pois bem, edição de agosto de 07, Leci Brandão sobe ao palco e, num discurso emocionante, exalta as escolas de samba de tradição dando uma ênfase à verde e branco e começa, juntamente com o público presente, na sua esmagadora maioria portelenses, a cantar o glorioso Império Serrano. Nessa hora eu vi o quão “macho” é o senhor Nilo que teve que agüentar sem poder fazer nada, um hino Imperiano em sua casa (que aliás não é dele).

Esse testemunho é contra o desrespeito que “rivais” têm um pelo outro no mundo do samba. Projetos, terreiros, blocos carnavalescos, escolas de samba e, principalmente, músicos têm que se unir em torno de um mesmo ideal. Faça a sua parte melhor que a do outro e não a do outro pior que a sua, e se você não conseguir ser melhor, bata palmas e aprenda com eles.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Vale a pena? (Sobre o artigo do Vinícius)

Então eu escrevi o artigo abaixo sobre o texto do meu cumpádi Vinícius:

Vale a pena?

Li um artigo do meu “cumpádi” Vinícius Siqueira, grande sambista da nova geração amante do samba semente (aquele que vem antes da raiz) questionando onde pararemos, tendo em vista que um grande ícone “sambístico” de nossas vidas, influência para muitos amantes do samba, precursores de um novo estilo radicado no final dos anos 70 e início dos anos 80, acabaram se rendendo ao pagode de FM. Aquela batucada que aprendemos a admirar e, principalmente, a admirar, está extinta graças às imposições de gravadoras, empresários e afins.

Diante do que li, acabei refletindo sobre alguns aspectos. Era muito comum na década de 90 no “boom” do pagode encontrar com os chamados “new pagodeiros” pelas rodas da cidade a bordo de seus Mustangs com a maior pompa de emergentes da alta sociedade, mesmo que suas famílias continuassem morando de aluguel. Sempre ao lado de loiras estonteantes e modelos da banheira do Gugu sendo que nas épocas dos shows no boteco da vila, tocando em troca de uma porção de calabresa, uma de batata frita e algumas garrafas de cerveja, as Marias, Berenices e Joanas encaravam todo e qualquer tipo de dificuldade ao lado dos, até então, Josés, Antônios e Sebastiões.

Um ponto que não podemos deixar passar em branco nessa análise/reflexão é o fato de muitos desses grupos possuírem um, muitas vezes único, trabalho de bom de samba. Fora que com a coletividade conquistada durante esses anos freqüentando as rodas de samba do eixo Rio/São Paulo, fica-se sabendo que aquele cara que hoje rebola no programa do Gilberto Barros, ou aquele outro que pinta o cabelo de amarelo, conhecem muito da história do samba assim como sabem fazer trabalhos de boa qualidade. Dados postos sobre a mesa, perguntamos: Por que?

A resposta que eu mais ouço, inclusive dada por pessoas que se enquadram nessa descrição acima é a de que é necessário colocar comida em casa. É uma explicação que, na maioria das vezes, é válida. Mas agora vem a pergunta que não quer calar: Vale a pena? Será que vale a pena se render a esse tipo de segmento que preza única e exclusivamente o hoje não importando nem um pouco o ontem nem o amanhã? Vale a pena vender sua imagem e seu nome para algo que, está mais do que provado graças a Deus, é mais passageiro do que as Marias e os Josés que pegam sua condução todos os dias pra trabalhar? Vale a pena rebolar em rede nacional para ter que vender shows e cd´s mais pela imagem do que pelo trabalho musical (desculpem o termo “trabalho musical”)?

O que dizer de monstros do samba como Noel Rosa, Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Aniceto do Império, Alcides Malandro Histórico, Silas de Oliveira e muitos outros que, em momento nenhum de sua vida se deixou levar pelas “novas tendências” que iam surgindo, mesmo tendo que colocar comida em casa? Por que ELES defenderam tanto uma bandeira que não lhes dava Mustangs, loiras estonteantes e modelos da banheira do Gugu? Será que era o amor e o respeito que eles tinham pelo Samba? Será que aquele grupo surgido no início dos anos 80 ama e respeita o samba da mesma forma que aqueles que fizeram, de alguma forma, com que eles aprendessem a tocar e até criassem novos instrumentos? Essa dúvida paira sobre as cabeças de todos os amantes do bom samba.

Mas nem só de Kaiser vive as cervejas, temos grupos novos e bons como Quinteto em Branco e Preto, Galocantô, Batuque na cozinha, Anjos da Lua, Grupo Semente e inúmeros projetos principalmente em São Paulo como Samba da Vela, Pagode do Cafofo, Samba da Tenda, Projeto Nosso Samba, Projeto Samba de Todos os Tempos, Samba da Laje, Morro das Pedras e muitos outros a fim de não deixar essa chama não se apagar, pois como diz um outro monstro do samba que está vendendo quadros que ele pinta para poder colocar comida na mesa, o SAMBA AGONIZA, MAS NÃO MORRE mesmo porque NINGUÉM FAZ SAMBA SÓ PORQUE PREFERE.

Gustavo Japa

Respeitem os números baixos

ATENÇÃO, NÃO É BRINCADEIRA!!!

O grupo dos mauricinhos que não gostam daquela famosa colculadora gravou em seu último álbum a faixa "Gago Apaixonado" do grande Noel Rosa. Há quem diga que é melhor eles gravarem Noel do jeito deles, a gravar o que eles estão acostumados. Eu, particularmente, tenho uma opinião totalmente contrária. Noel Rosa, assim como todos os outros bambas números baixos merecem, acima de tudo, respeito. Não basta querer gravar uma obra-prima dessa magnitude, tem que poder e isso os cidadãos em questão não podem. Já estou até vendo as patricinhas e mauricinhos (público deles) cantando o "Gago Apaixonado" porque acharam a letra engraçada se, saber que essa música tem mais de 70 anos e que já foi gravada por João Nogueira, Moreira da Silva, entre outros. VAMOS ABRIR OS OLHOS RAPAZIADA! ESTÃO TENTANDO ACABAR COM A NOSSA CULTURA!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Samba ou Pagode?

"Fui a um salão lá na quebrada, tinha uma pá de petecas, mas o som era pagodinho" ou então "Não sou pagodeiro, sou sambista". Quantas vezes você já ouviu algum amigo seu dizendo algo assim? Vocês sabem o que é pagode? Segundo os dicionários, a definição é a seguinte:

s.m. Pavilhão de construção típica, onde alguns povos do Oriente rendem culto a seus deuses. / Antiga moeda de ouro da Índia. / Pândega, farra, brincadeira.

Pois o pagode, nada mais era (é) do que um encontro de amigos para farrear e que invariávelmente rolava um sambinha descompromisado por pura diversão. Daí começou a se dizer: "Vai rolar um pagode no quintal do fulano de tal, vamos?". Até aí tudo bem, mas veio a década de 90 com "pérolas musicais" que estouraram no Brasil de forma a ter espaço na mídia televisiva e radiofônica nacional, se auto-intitulando pagodeiros. Quem conhece o movimento do pagode que teve seu início no final da década de 70, principalmente com o Cacique de Ramos, sabe que a comparação (mal) feita entre as duas épocas é totalmente descabida. O verdadeiro pagode é uma das maravilhas do mundo e fez com que o Sr. Jessé Gomes da Silva Filho adotasse o termo ao seu nome artístico - Zeca Pagodinho - e com que o grande bamba Geraldo Babão tivesse orgulho de se auto-intitular pagodeiro numa roda de partido alto com Almir Guineto -

"Sei que sou bamba de samba
Pois trago na veia o sangue brasileiro
O mundo já me conhece
Sabe que sou pagodeiro"

- entre outros. Estão tentando roubar a nossa etiqueta e temos que lutar para não deixar que isso aconteça. Eles que arrumem um termo que os classifiquem de acordo com o que eles são.

Samba ou Pagode? Tanto faz, mas por via das dúvidas: EU SOU SAMBISTA.

Carnaval 2007

Segue abaixo um texto que eu escrevi logo que voltei a São Paulo depois de minhas férias passadas no Rio de Janeiro em plena época do carnaval:

SUPER ESCOLAS DE SAMBA S/A

Acredito que o Carnaval Carioca – 2007 tenha sido a ponto alto das “Super Escolas de Samba S/A” como previu Aluisio Machado e Beto Sem Braço há 25 anos. Os desserviços prestados pelos sambeiros que assolaram as escolas e a liga das escolas de samba, juntamente com a gana de ganhar cada vez mais dinheiro estão destruindo de vez (se já não destruiu) uma cultura que era popular e que estão conseguindo roubar, assim como muitas outras coisas que já foram tiradas de quem é de direito. E não achem que é bairrismo ou algo parecido, porque em São Paulo temos o mesmo cenário de descaso e desrespeito com a maior festa “popular” do mundo. Hoje em dia as agremiações deixaram de ser Escolas de Samba para se tornarem Escolas de Carnaval pelas mãos desses pseudo-carnavalescos que não sabem a diferença entre Sebastião Molequinho e Ismael Silva (se é que eles sabem quem eles foram) e pelos jurados vendidos que são nomeados por uma única pessoa, sendo assim mais fácil atender aos interesses desse ou daquele sargento, coronel ou CAPITÃO. Quem não me conhece deve estar pensando: Xiii, no mínimo ele é Estaciano ou Imperiano e agora vem com esse papinho de mau perdedor. Realmente sou Imperiano na alegria e na dor, diga-se de passagem, e por isso mesmo me sinto a vontade para dissertar sobre o assunto. O Império Serrano não conta com os super patrocínios das outras escolas, não conta com o ”glamour” e a constante visita de turistas à quadra de Madureira em dias de ensaio, não conta com artistas globais com o intuito de se promover (se bem que esse ano... bom, deixa pra lá), conta com uma grande maioria de gente da comunidade e preza por manter a melhor bateria do Brasil (o único quesito que é Samba mesmo). Mas espera aí! E o famoso chavão que diz que o carnaval é a festa do povo? É uma pinóia! Para se contar a história do carnaval de escolas de samba, devemos iniciar a narrativa como os contos de fada: Era uma vez...
Ontem fui ao Orkut para ler as opiniões nas maiores comunidades da verde e branco de Madureira e, para minha surpresa, muitos defendem que o Império tem que ir atrás de patrocínios desesperadamente, que deve contratar um carnavalesco de renome (Ai meu São Jorge!), que deve mudar seu jeito de desfilar, que tradição não vai levar a escola de volta ao grupo especial, resumindo, eles (não todos) querem que o Império Serrano se transforme em mais uma das “Super Escolas de Samba S/A” citadas lá no início. É notável e sabido que esse site de relacionamento é dominado pelos mais jovens e que, raramente, o pessoal da antiga tem acesso a ele, mas independente da idade Sambistas de verdade não deveriam pensar assim. Estou preocupado com o futuro da escola do morro da Serrinha, Congonha e Tamarineira uma vez que os futuros responsáveis por não deixar essa linda história ter fim estão se rendendo às tendências impostas por quem sabe tanto da história do carnaval, quanto eu da história do descobrimento do Uzbequistão. As agremiações possuem uma história que deve constantemente ser lembrada e, principalmente, respeitada. Muita gente lutou, e muito, para construir uma história para que cheguem pessoas cheirando à fralda querendo mudá-la jogando no lixo toda essa luta. Eu respeito número baixo e todos deveriam fazer o mesmo.
Esse ano eu não desfilei por “N” motivos e um deles foi a perda daquele sentimento de entrar na avenida como se você estivesse entrando no Morumbi ou Maracanã lotado para um clássico em decisão de campeonato. Preferi curtir meu carnaval nos blocos de rua e nas rodas de samba espalhadas pela cidade e querem saber? Não me arrependo nem um pouco.
Há um samba gravado por Beth Carvalho no álbum Pé no Chão de composição de Neném e Pintado que já dizia qual seria o futuro dessas agremiações. Seu nome é VISUAL e quem estiver interessado pode ler a letra no link: http://beth-carvalho.letras.terra.com.br/letras/426636/
Vamos resgatar o carnaval de verdade e fazer com que ele deixe de ser somente uma Doce Ilusão, tragamos as letras poéticas de Silas de Oliveira de volta, as comissões de frente com o intuito de apresentar as escolas, carros abre-alas e demais alegorias no lugar de verdadeiros transatlânticos sobre rodas, fantasias bonitas e confortáveis para que se possa sambar e brincar na avenida, fechar as portas para quem não tem o menor compromisso com a escola e desfila pegando a fantasia na entrada da concentração, exaltar as velhas guardas e os fundadores, respeitar os compositores e, principalmente, nossos ouvidos, evidenciar a participação das comunidades e de quem participa ativamente nas quadras das escolas, acabar com essa grande idiotice chamada “desfile técnico”, ignorar os pseudo-carnavalescos que tanto mal faz para o NOSSO carnaval, enfim, vamos recuperar o que é NOSSO e nos roubaram sem que tivesse nenhuma resistência por parte de quem é, de direito, dono do carnaval: o povo.
Sei que tudo isso é uma grande utopia, mas é o que eu sinto. No carnaval 2008 desfilarei pelo Império Serrano mesmo não concordando com o que está aí, afinal como já dizia Mestre Fuleiro e Dona Ivone Lara, sou Imperiano na alegria e na dor, mas se a verde e branco de Madureira não tivesse caído para o grupo de acesso, certamente ficaria única e exclusivamente com os blocos de rua e rodas de samba.
Mais para frente, teremos novidades relacionadas à essa discussão e todos vocês ficarão sabendo. Trata-se de um projeto a médio/longo prazo para promover um movimento de resgate do samba de carnaval desde a escola de samba Quilombo com o grande mestre Antonio Candeia Filho. Talvez você e eu não vejamos as atuais escolas de carnaval voltar a ser verdadeiras escolas de samba, mas se meu tatatatatatatatatatatatatataraneto o fizer já terá valido a pena.

Salve o Império Serrano de Sebastião de Oliveira, Mestre Aniceto, Tia Eulália, Silas de Oliveira, Mano Elói, Campolino, Mano Décio da Viola, Beto Sem Braço, Mestre Fuleiro, Hugo Pinto, salve o Deixa Falar, o Unidos de São Carlos e o Estácio de Sá de Ismael Silva, Mestre Marçal, Bide, Mano Edgar, Nilton Bastos, Baiaco, Brancura... SALVE(m) NOSSA CULTURA POPULAR!