quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Carnaval 2007

Segue abaixo um texto que eu escrevi logo que voltei a São Paulo depois de minhas férias passadas no Rio de Janeiro em plena época do carnaval:

SUPER ESCOLAS DE SAMBA S/A

Acredito que o Carnaval Carioca – 2007 tenha sido a ponto alto das “Super Escolas de Samba S/A” como previu Aluisio Machado e Beto Sem Braço há 25 anos. Os desserviços prestados pelos sambeiros que assolaram as escolas e a liga das escolas de samba, juntamente com a gana de ganhar cada vez mais dinheiro estão destruindo de vez (se já não destruiu) uma cultura que era popular e que estão conseguindo roubar, assim como muitas outras coisas que já foram tiradas de quem é de direito. E não achem que é bairrismo ou algo parecido, porque em São Paulo temos o mesmo cenário de descaso e desrespeito com a maior festa “popular” do mundo. Hoje em dia as agremiações deixaram de ser Escolas de Samba para se tornarem Escolas de Carnaval pelas mãos desses pseudo-carnavalescos que não sabem a diferença entre Sebastião Molequinho e Ismael Silva (se é que eles sabem quem eles foram) e pelos jurados vendidos que são nomeados por uma única pessoa, sendo assim mais fácil atender aos interesses desse ou daquele sargento, coronel ou CAPITÃO. Quem não me conhece deve estar pensando: Xiii, no mínimo ele é Estaciano ou Imperiano e agora vem com esse papinho de mau perdedor. Realmente sou Imperiano na alegria e na dor, diga-se de passagem, e por isso mesmo me sinto a vontade para dissertar sobre o assunto. O Império Serrano não conta com os super patrocínios das outras escolas, não conta com o ”glamour” e a constante visita de turistas à quadra de Madureira em dias de ensaio, não conta com artistas globais com o intuito de se promover (se bem que esse ano... bom, deixa pra lá), conta com uma grande maioria de gente da comunidade e preza por manter a melhor bateria do Brasil (o único quesito que é Samba mesmo). Mas espera aí! E o famoso chavão que diz que o carnaval é a festa do povo? É uma pinóia! Para se contar a história do carnaval de escolas de samba, devemos iniciar a narrativa como os contos de fada: Era uma vez...
Ontem fui ao Orkut para ler as opiniões nas maiores comunidades da verde e branco de Madureira e, para minha surpresa, muitos defendem que o Império tem que ir atrás de patrocínios desesperadamente, que deve contratar um carnavalesco de renome (Ai meu São Jorge!), que deve mudar seu jeito de desfilar, que tradição não vai levar a escola de volta ao grupo especial, resumindo, eles (não todos) querem que o Império Serrano se transforme em mais uma das “Super Escolas de Samba S/A” citadas lá no início. É notável e sabido que esse site de relacionamento é dominado pelos mais jovens e que, raramente, o pessoal da antiga tem acesso a ele, mas independente da idade Sambistas de verdade não deveriam pensar assim. Estou preocupado com o futuro da escola do morro da Serrinha, Congonha e Tamarineira uma vez que os futuros responsáveis por não deixar essa linda história ter fim estão se rendendo às tendências impostas por quem sabe tanto da história do carnaval, quanto eu da história do descobrimento do Uzbequistão. As agremiações possuem uma história que deve constantemente ser lembrada e, principalmente, respeitada. Muita gente lutou, e muito, para construir uma história para que cheguem pessoas cheirando à fralda querendo mudá-la jogando no lixo toda essa luta. Eu respeito número baixo e todos deveriam fazer o mesmo.
Esse ano eu não desfilei por “N” motivos e um deles foi a perda daquele sentimento de entrar na avenida como se você estivesse entrando no Morumbi ou Maracanã lotado para um clássico em decisão de campeonato. Preferi curtir meu carnaval nos blocos de rua e nas rodas de samba espalhadas pela cidade e querem saber? Não me arrependo nem um pouco.
Há um samba gravado por Beth Carvalho no álbum Pé no Chão de composição de Neném e Pintado que já dizia qual seria o futuro dessas agremiações. Seu nome é VISUAL e quem estiver interessado pode ler a letra no link: http://beth-carvalho.letras.terra.com.br/letras/426636/
Vamos resgatar o carnaval de verdade e fazer com que ele deixe de ser somente uma Doce Ilusão, tragamos as letras poéticas de Silas de Oliveira de volta, as comissões de frente com o intuito de apresentar as escolas, carros abre-alas e demais alegorias no lugar de verdadeiros transatlânticos sobre rodas, fantasias bonitas e confortáveis para que se possa sambar e brincar na avenida, fechar as portas para quem não tem o menor compromisso com a escola e desfila pegando a fantasia na entrada da concentração, exaltar as velhas guardas e os fundadores, respeitar os compositores e, principalmente, nossos ouvidos, evidenciar a participação das comunidades e de quem participa ativamente nas quadras das escolas, acabar com essa grande idiotice chamada “desfile técnico”, ignorar os pseudo-carnavalescos que tanto mal faz para o NOSSO carnaval, enfim, vamos recuperar o que é NOSSO e nos roubaram sem que tivesse nenhuma resistência por parte de quem é, de direito, dono do carnaval: o povo.
Sei que tudo isso é uma grande utopia, mas é o que eu sinto. No carnaval 2008 desfilarei pelo Império Serrano mesmo não concordando com o que está aí, afinal como já dizia Mestre Fuleiro e Dona Ivone Lara, sou Imperiano na alegria e na dor, mas se a verde e branco de Madureira não tivesse caído para o grupo de acesso, certamente ficaria única e exclusivamente com os blocos de rua e rodas de samba.
Mais para frente, teremos novidades relacionadas à essa discussão e todos vocês ficarão sabendo. Trata-se de um projeto a médio/longo prazo para promover um movimento de resgate do samba de carnaval desde a escola de samba Quilombo com o grande mestre Antonio Candeia Filho. Talvez você e eu não vejamos as atuais escolas de carnaval voltar a ser verdadeiras escolas de samba, mas se meu tatatatatatatatatatatatatataraneto o fizer já terá valido a pena.

Salve o Império Serrano de Sebastião de Oliveira, Mestre Aniceto, Tia Eulália, Silas de Oliveira, Mano Elói, Campolino, Mano Décio da Viola, Beto Sem Braço, Mestre Fuleiro, Hugo Pinto, salve o Deixa Falar, o Unidos de São Carlos e o Estácio de Sá de Ismael Silva, Mestre Marçal, Bide, Mano Edgar, Nilton Bastos, Baiaco, Brancura... SALVE(m) NOSSA CULTURA POPULAR!

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