quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Vale a pena? (Sobre o artigo do Vinícius)

Então eu escrevi o artigo abaixo sobre o texto do meu cumpádi Vinícius:

Vale a pena?

Li um artigo do meu “cumpádi” Vinícius Siqueira, grande sambista da nova geração amante do samba semente (aquele que vem antes da raiz) questionando onde pararemos, tendo em vista que um grande ícone “sambístico” de nossas vidas, influência para muitos amantes do samba, precursores de um novo estilo radicado no final dos anos 70 e início dos anos 80, acabaram se rendendo ao pagode de FM. Aquela batucada que aprendemos a admirar e, principalmente, a admirar, está extinta graças às imposições de gravadoras, empresários e afins.

Diante do que li, acabei refletindo sobre alguns aspectos. Era muito comum na década de 90 no “boom” do pagode encontrar com os chamados “new pagodeiros” pelas rodas da cidade a bordo de seus Mustangs com a maior pompa de emergentes da alta sociedade, mesmo que suas famílias continuassem morando de aluguel. Sempre ao lado de loiras estonteantes e modelos da banheira do Gugu sendo que nas épocas dos shows no boteco da vila, tocando em troca de uma porção de calabresa, uma de batata frita e algumas garrafas de cerveja, as Marias, Berenices e Joanas encaravam todo e qualquer tipo de dificuldade ao lado dos, até então, Josés, Antônios e Sebastiões.

Um ponto que não podemos deixar passar em branco nessa análise/reflexão é o fato de muitos desses grupos possuírem um, muitas vezes único, trabalho de bom de samba. Fora que com a coletividade conquistada durante esses anos freqüentando as rodas de samba do eixo Rio/São Paulo, fica-se sabendo que aquele cara que hoje rebola no programa do Gilberto Barros, ou aquele outro que pinta o cabelo de amarelo, conhecem muito da história do samba assim como sabem fazer trabalhos de boa qualidade. Dados postos sobre a mesa, perguntamos: Por que?

A resposta que eu mais ouço, inclusive dada por pessoas que se enquadram nessa descrição acima é a de que é necessário colocar comida em casa. É uma explicação que, na maioria das vezes, é válida. Mas agora vem a pergunta que não quer calar: Vale a pena? Será que vale a pena se render a esse tipo de segmento que preza única e exclusivamente o hoje não importando nem um pouco o ontem nem o amanhã? Vale a pena vender sua imagem e seu nome para algo que, está mais do que provado graças a Deus, é mais passageiro do que as Marias e os Josés que pegam sua condução todos os dias pra trabalhar? Vale a pena rebolar em rede nacional para ter que vender shows e cd´s mais pela imagem do que pelo trabalho musical (desculpem o termo “trabalho musical”)?

O que dizer de monstros do samba como Noel Rosa, Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Aniceto do Império, Alcides Malandro Histórico, Silas de Oliveira e muitos outros que, em momento nenhum de sua vida se deixou levar pelas “novas tendências” que iam surgindo, mesmo tendo que colocar comida em casa? Por que ELES defenderam tanto uma bandeira que não lhes dava Mustangs, loiras estonteantes e modelos da banheira do Gugu? Será que era o amor e o respeito que eles tinham pelo Samba? Será que aquele grupo surgido no início dos anos 80 ama e respeita o samba da mesma forma que aqueles que fizeram, de alguma forma, com que eles aprendessem a tocar e até criassem novos instrumentos? Essa dúvida paira sobre as cabeças de todos os amantes do bom samba.

Mas nem só de Kaiser vive as cervejas, temos grupos novos e bons como Quinteto em Branco e Preto, Galocantô, Batuque na cozinha, Anjos da Lua, Grupo Semente e inúmeros projetos principalmente em São Paulo como Samba da Vela, Pagode do Cafofo, Samba da Tenda, Projeto Nosso Samba, Projeto Samba de Todos os Tempos, Samba da Laje, Morro das Pedras e muitos outros a fim de não deixar essa chama não se apagar, pois como diz um outro monstro do samba que está vendendo quadros que ele pinta para poder colocar comida na mesa, o SAMBA AGONIZA, MAS NÃO MORRE mesmo porque NINGUÉM FAZ SAMBA SÓ PORQUE PREFERE.

Gustavo Japa

2 comentários:

Anônimo disse...

Meninos,
PARABÉNS!
O blog está excelente e aprendi coisa pra caramba com o pouco que consegui ler até agora.
Fecho com a mesma visão de vocês sobre esses "cantores e grupos".
Porém não me espanta tanto, talvez porque sei que existem pessoas e pessoas.
E não é só no mundo das artes que isto acontece.Em todo lugar tem gente que vende a alma com desculpas esfarrapadas.
Os que não "se prostituem" têm valores essenciais firmes e inabaláveis, têm a vocação falando mais alto que tudo e associada ao amor pelo que faz... esses não se vendem por preço nenhum, vivem por um ideal, por um sonho.
Os demais são os desprovidos de firmeza de Ego, geralmente pessoas com pouca autoconfiança e baixa auto-estima. Cultuam valores materialistas do ter e nem sabem, coitados, o que são os valores do SER. Podem até sonhar, mas não têm ideal e não sabem caminhar no sentido de tornar seu sonho realidade. O que sinto por esses? Pena, muita pena.

Anônimo disse...

Muito bom seu texto e todo o conteúdo desse blog. Acho engraçado, como que os "pagodeiros" da década de 80(Zeca, Almir, Mauro Diniz, etc) mesmo sem as pompas dos "new pagodeiros", conseguiram resistir com seu bom trabalho, e de todos, apenas o Zeca ainda tem acesso às grandes mídias. Apenas o genial Jorge Aragão resolveu partir um pouco pro padrão FM de qualidade, mas sem deixar de fazer o seu bom samba.
E recentemente, o Diogo Nogueira, gravou o seu DVD e inclui um samba, que certamente irá ficar na boca do povo da FM O Dia(ahá-uhu!)com um refrão ao melhor estilo "new pagode" não lembrando nem um pouco o pai...